A constipação é um problema gastrointestinal comum em idosos, fazendo com que a automedicação com o uso de laxante torne-se uma prática rotineira e muitas vezes arriscada. O uso de laxante implica em efeitos adversos que devem ser avaliados com cautela por um profissional de saúde, afim de encontrar o tratamento adequado, mais eficaz e seguro para cada caso.
Um estudo de revisão buscou avaliar os efeitos e a segurança dos principais laxantes utilizados por pacientes idosos. Vinte e três ensaios clínicos randomizados foram incluídos na revisão, analisando insumos como Psyllium, policarbofil de cálcio, xarope de lactulose, lactitol (Beta-galactosideo-sorbitol), polietilenoglicol (PEG) e hidróxido de magnésio, além de medicamentos como Prucaloprida, Lubiprostona e Elobixibat. Desses citados, o PEG mostrou-se o mais seguro e eficaz quando usado por até 6 meses.
Abaixo segue os principais pontos discutidos na revisão:
Psyllium
O psyllium diminuiu significativamente o tempo total de trânsito intestinal e melhorou a consistência das fezes em pacientes idosos. No entanto, ensaios clínicos com psyllium não mostraram aumentos significativos no número de evacuações ou diminuição do uso de laxantes. Como todos os 4 estudos incuídos na revisão foram realizados em um pequeno número de pacientes, menos de 20 em cada grupo, o poder estatístico para detectar a diferença pode ser baixo. Em uma revisão sistemática que analisou o efeito da fibra na constipação crônica realizada pelo American College of Gastroenterology, concluiu-se que o psyllium foi o único agente fibroso com evidências clínicas suficientes.
Policarbofil de cálcio
Segundo a revisão, não houve evidências suficiente com o uso de policarbofil de cálcio. No entanto, em um estudo comparando policarbofil de cálcio e psyllium os efeitos de ambos insumos foram semelhantes, mas muitos pacientes mostraram preferência pelo policarbofil de cálcio porque produziam menos gás.
O psyllium é classificado como uma fibra fermentável intermediária solúvel e o policarbofil de cálcio é uma fibra insolúvel e não fermentável. Como o tempo de trânsito do cólon em idosos é muito maior em idosos do que em adultos jovens, mesmo uma fibra fermentável intermediária pode causar flatulência. Portanto, ao usar fibra para idosos com constipação, recomenda-se remover primeiro as fezes duras com outro laxante e depois usar uma fibra com pequena dose.
Laxantes osmóticos: Lactulose, Lactitol e PEG
Na comparação entre os laxantes osmóticos, a eficácia do xarope de lactulose e do lactitol foram semelhantes. No entanto, em um estudo de 6 meses comparando PEG e lactulose, o PEG foi mais eficaz em aliviar os sintomas de constipação do que a lactulose, e a frequência de efeitos adversos não foi diferente entre os 2 grupos.
Em termos de segurança, um estudo usando PEG e lactulose em idosos por 6 meses concluiu que o uso prolongado de PEG e lactulose é considerado relativamente seguro em pacientes idosos com constipação. A maioria das diretrizes sugere que o laxante osmótico perde apenas para o uso de fibras porque é eficaz, tem menos efeitos colaterais e é barato, o que também pode ser considerado a mesma recomendação para pacientes mais velhos. Em algumas diretrizes, o PEG é preferível à lactulose em laxantes osmóticos.
Hidróxido de magnésio
O hidróxido de magnésio mostra-se capaz de aumentar significativamente o número de defecações por semana, melhorar a consistência das fezes e diminuir a necessidade de laxantes durante 4 semanas. No entanto, houve um aumento no nível de magnésio no sangue em 5,6% (2/36) dos pacientes em uso de hidróxido de magnésio, todos com função renal anormal. Embora não haja sintomas associados à hipermagnesemia, os níveis de magnésio devem ser monitorados periodicamente ao usar hidróxido de magnésio em pacientes idosos com função renal comprometida.
Prucaloprida
A prucaloprida é o agonista do receptor de serotonina (5-HT 4 ) altamente seletivo. Ensaios clínicos mostraram que o tratamento com 2 mg de prucaloprida resultou em aumento da frequência de evacuação na semana em 30,9% daqueles que receberam a medicação em comparação com 12,0% no grupo placebo.
Em relação à segurança da prucaloprida em pacientes idosos, a incidência dos efeitos adversos emergentes foi semelhante à incidência no grupo placebo. Os efeitos adversos mais frequentes da prucaloprida foram dores de cabeça e eventos gastrointestinais, incluindo dor abdominal, diarreia e náusea. Dessa forma, recomenda-se seu uso em pacientes idosos que não respondem satisfatoriamente a fibras, laxantes osmóticos e laxantes estimulantes, conforme sugerido em diretrizes.
Lubiprostona
A eficácia e segurança do uso de lubiprostona em pacientes idosos foram mostradas apenas em 2 resumos de conferências. Seu uso aumenta significativamente os movimentos intestinais e melhora a consistência das fezes em relação ao placebo. Portanto há necessidade de mais estudos envolvendo grande número de indivíduos para ter resultados mais conclusivos sobre a segurança em pacientes idosos.
Elobixibat
O elobixibat é um inibidor do transportador de ácidos biliares ileais de ação local e demonstrou ser eficaz na constipação em comparação com placebo em um estudo randomizado de 2 semanas. Dor abdominal e diarreia foram mais frequentes no grupo elobixibat do que no placebo, mas a maioria dos efeitos adversos gastrointestinais foram leves.
Apesar de estudos mostrarem que o Elobixibat é eficaz no alívio da constipação tanto em pacientes idosos como em pacientes mais jovens, com menos efeitos adversos em pacientes idosos, o número de pacientes idosos incluídos no estudo foi de apenas 11 (5 em placebo e 6 em elobixibat), e a duração do tratamento foi de apenas 2 semanas, o que parece insuficiente como evidência para recomendar elobixibat em pacientes idosos.
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Vale ressaltar que o trabalho de revisão resumido aqui não incluiu o uso de fitoterápicos e até mesmo o medicamento bisacodil por falta de estudos relevantes, atuais e com o uso a longo prazo. O bisacodil por exemplo, um laxante estimulante muito usado, segundo os autores da revisão não foi encontrado estudo relevante em pacientes idodos. Mas apesar de existir pouco estudo a respeito, a maioria das diretrizes recomenda que seja usado se não houver resposta ao tratamento com laxante formador de massa ou laxante osmótico. No entanto, é recomendado o uso por um curto período de tempo dentro de vários meses, pois existe o risco de causar perda de água e eletrólitos, esteatorréia e enteropatia quando usado por um longo período de tempo.
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Bibliografia consultada:
Kang SJ; et al. Medical Management of Constipation in Elderly Patients: Systematic Review. J Neurogastroenterol Motil. 2021