Diabetes mellitus tipo 2 é uma das doenças metabólicas mais prevalentes globalmente, e o controle glicêmico adequado é crucial para prevenir complicações a longo prazo. Além das terapias farmacológicas convencionais, cresce o interesse por abordagens complementares. A Berberina, um alcaloide isolado da planta Berberis, tem sido estudada por seu efeito hipoglicemiante em diferentes populações. Um ensaio clínico randomizado controlado duplo-cego visou investigar o impacto da Berberina em pacientes com diabetes tipo 2.
Metodologia do Estudo
O estudo envolveu 84 pacientes divididos em dois grupos: 42 pacientes receberam cápsulas de Berberina (500 mg, duas vezes ao dia), enquanto os outros 42 receberam placebo, ambos em combinação com seus medicamentos usuais e recomendações de dieta e estilo de vida. O tratamento foi mantido por quatro semanas, com monitoramento de parâmetros como glicemia plasmática em jejum (FBS), glicemia pós-prandial (2HPP), frutosamina, perfil lipídico, níveis de insulina e marcadores hepáticos e renais.
Os índices HOMA-IR e HOMA-β% foram calculados para avaliar a resistência à insulina e a função das células beta-pancreáticas, respectivamente.
Resultados
Após quatro semanas de administração de Berberina, os resultados mostraram uma redução significativa nos seguintes parâmetros:
- Glicemia de jejum (FBS): Diminuição de 192 ± 59,6 mg/dL para 167,7 ± 51,8 mg/dL no grupo Berberina, enquanto no grupo placebo essa redução não foi significativa (P = 0,036).
- Glicemia pós-prandial (2HPP): Houve uma redução de 266,1 ± 93,7 mg/dL para 222,5 ± 76 mg/dL no grupo Berberina (P = 0,001).
- Frutosamina: Redução de 425,7 ± 139,7 micromol/L para 344,9 ± 126,1 micromol/L no grupo Berberina (P = 0,014).
No entanto, embora tenha havido uma melhora nos níveis de insulina em jejum, HOMA-β% e HOMA-IR no grupo Berberina, essas diferenças não foram estatisticamente significativas. O perfil lipídico, incluindo LDL, TG e VLDL, também apresentou redução no grupo Berberina, mas sem superioridade relevante em relação ao placebo. O colesterol total não apresentou diferença significativa entre os grupos.
Considerações Clínicas
A Berberina demonstrou ser uma alternativa promissora no manejo do controle glicêmico em pacientes com diabetes tipo 2, reduzindo de forma eficaz a glicemia de jejum, glicemia pós-prandial e frutosamina em um curto período de tempo. Entretanto, o efeito sobre o perfil lipídico e a resistência insulínica ainda requer mais investigações para estabelecer sua relevância clínica a longo prazo.
Dado que a Berberina atua em múltiplas vias metabólicas, incluindo a ativação da AMPK, mais estudos são necessários para explorar suas implicações em outras comorbidades associadas ao diabetes, como dislipidemia e inflamação crônica. Para profissionais de saúde, a inclusão da Berberina como coadjuvante no tratamento pode ser uma abordagem interessante, mas é fundamental considerar individualmente a resposta de cada paciente e monitorar possíveis interações com a farmacoterapia convencional.
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