Um micro-organismo encontrado no cólon e comumente associado ao desenvolvimento de colite e câncer de cólon também pode desempenhar um papel no desenvolvimento de alguns cânceres de mama, de acordo com uma nova pesquisa publicada na revista Cancer Discovery. Segundo os pesquisadores, as células do tecido mamário expostas a essa toxina retêm uma memória de longo prazo, aumentando o risco de doenças.
A partir de uma série de experimentos laboratoriais, os pesquisadores descobriram que quando o Bacteroides fragilis enterotoxigênico (ETBF) foi introduzido no intestino ou nos ductos mamários de camundongos, ocorria indução do crescimento e a progressão metastática das células tumorais. Embora os micro-organismos sejam conhecidos por estarem presentes em locais do corpo como o trato gastrointestinal e a pele, o tecido mamário era considerado até recentemente estéril e a presente pesquisa mostra que algumas bactérias são capazes de migrar pelo corpo.
O estudo é um primeiro passo para mostrar o envolvimento da ETBF no desenvolvimento do câncer de mama. Estudos adicionais são necessários para esclarecer como o ETBF se move por todo o corpo, se o ETBF pode ser o único condutor para acionar diretamente a transformação das células da mama em humanos e / ou se outra microbiota também tem atividade cancerígena no tecido mamário.
Apesar de vários fatores de risco estabelecidos para o câncer de mama, como idade, alterações genéticas, radioterapia e história familiar, um grande número de cânceres de mama surge em mulheres que não possuem nenhum deles, indicando a necessidade de olhar além. Com isso, o estudo sugere um outro fator de risco: o microbioma. De acordo com a pesquisa se microbioma for perturbado, ou se você abrigar micro-organismos patogênicos com função oncogênica, isso pode ser considerado um fator de risco adicional para câncer de mama.
Para chegar nesses resultados a equipe inicialmente realizou uma meta-análise de dados clínicos avaliando os estudos publicados comparando a composição microbiana entre tumores de mama benignos e malignos e fluidos de aspirado de mamilo de sobreviventes de câncer de mama e voluntários saudáveis. B. fragilis foi detectado de forma consistente em todas as amostras de tecido mamário, bem como nos fluidos mamilares de sobreviventes de câncer.
Na sequência a equipe administrou a bactéria ETBF por via oral a um grupo de ratos. Primeiro, ele colonizou o intestino. Então, em três semanas, o tecido mamário do camundongo apresentava alterações observáveis geralmente presentes na hiperplasia ductal, uma condição pré-cancerosa. Em testes adicionais, os pesquisadores descobriram que sintomas semelhantes aos da hiperplasia também apareceram dentro de duas a três semanas após a injeção da bactéria ETBF diretamente nas mamas dos camundongos, e que as células expostas à toxina sempre exibiram progressão tumoral mais rápida e agressivas do que as células não expostas à toxina. As células da mama expostas à toxina por 72 horas apresentaram uma memória da toxina e foram capazes de iniciar o desenvolvimento do câncer e formar lesões metastáticas em diferentes modelos de camundongos. Os investigadores também descobriram que as vias de sinalização das células Notch1 e beta-catenina estão envolvidas na promoção de EBFT.
Finalmente em estudos clínicos, os pesquisadores começaram a procurar alterações no microbioma entre pacientes com câncer de mama para ver como isso afeta a progressão do tumor e a resposta à terapia.
No futuro, a triagem para mudanças no microbioma pode ser tão simples quanto testes de amostras de fezes. Se for encontrado as bactérias responsáveis pelo desenvolvimento do câncer, pode-se facilmente avaliar as fezes e verificar sua presença.
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Bibliografia consultada:
Parida S; et al. A pro-carcinogenic colon microbe promotes breast tumorigenesis and metastatic progression and concomitantly activates Notch and βcatenin axes. Cancer Discovery, 2021.