Quando o tratamento não está dando certo é comum que a o paciente jogue a responsabilidade para a farmácia de manipulação, alegando que não foi feito a manipulação correta. Torna-se ainda mais comum quando o tratamento envolve parâmetros que podem ser analisados por um exame de sangue, como é o caso da terapia de reposição hormonal com testosterona transdérmica. Para o paciente a charada é simples: estou aplicando hormônio e o mesmo não está aumentando no meu exame, certamente fui enganado e não há hormônio na minha fórmula.
Como profissional de saúde sabemos que não é tão simples assim e há inúmeros quesitos que podem interferir em um tratamento. O Magistral Guide listou alguns pontos que devem ser avaliados quando a terapia de reposição hormonal com testosterona transdérmica não está atingindo seu objetivo. Lembrando que a prescrição de hormônios para terapia de reposição hormonal é uma tarefa exclusivamente médica mas um bom trabalho em conjunto com médico, paciente e farmacêutico pode auxiliar no sucesso do tratamento.
Local de aplicação
Avalie como o paciente está aplicando o produto. Deve-se optar por regiões de pele com espessura mais fina e sem pelos como ombros e face interna dos braços. Evitar regiões com muito pelos pois nos folículos pilosos existe a enzima 5-alfa redutase responsável por converter a testosterona em dihidrotestosterona (DHT).
É importante também alternar o local de aplicação do gel e, após aplicação aguardar alguns minutos para que o produto seque e seja absorvido.
Frequência de aplicação
Averiguar se o paciente está aplicando de acordo com a orientação médica. O ideal é aplicar a medicação após o banho, com a pele seca, antes de deitar e tomando o cuidado para que a região não entre em contato direto com o(a) parceiro (a) ou com crianças. Pode ser aplicado também pela manhã desde que nas horas seguintes o paciente não tenha um excesso de transpiração no local seja pela prática de atividade física ou uso de roupas quentes.
Dose prescrita
Pacientes em tratamento de reposição hormonal devem realizar exames sanguíneos periodicamente para ser possível traçar os resultados obtidos. E não basta dosar apenas testosterona. É necessário uma avaliação completa de parâmetros bioquímicos. Com os resultados é possível verificar se a testosterona está sendo convertida em estradiol e DHT (discutido no próximo tópico), como também se a dose está sendo suficiente ou há necessidade de adequá-la. Por isso, o paciente deve sempre ser orientado sobre a importância de acompanhar o médico prescritor e realizar os exames periodicamente .
Enzimas conversoras
Verifique se o paciente está usando em conjunto inibidores da aromatase e 5-alfa redutase.
Em situações normais, maior parte da testosterona livre (90% -95%) se liga aos receptores de andrógeno para exercer efeito farmacológico antes de ser metabolizada, concentrações menores seguirão por outras vias metabólicas. Cinco por cento a 8% da testosterona livre é reduzida a DHT via 5α redutase. E cerca de 0,3% a 0,5% da testosterona livre é metabolizada pela enzima aromatase. A aromatase irá transformar ativamente a testosterona em vários metabólitos, em particular estrona e estradiol.
Isso significa que em uma terapia de reposição de testosterona deve-se avaliar as condições hormonais do paciente em conjunto e não apenas as dosagens de testosterona livre e total. Durante o tratamento as dosagens séricas aumentadas de estradiol e DHT pode ser sugestivo de uma atividade aumentada das enzimas aromatase e 5α redutase, respectivamente. Nesses casos, é indicado a associação de inibidores da aromatase e/ou 5-alfa redutase.
Mas lembre-se que quando o assunto é hormônios o equilíbrio é a chave. Valores muito baixos de estradiol pode acarretar perda de libido. Ao contrário, valores altos também podem interferir na baixa libido, ginecomastia, ganho de gordura, retenção hídrica e irritabilidade. Já a DHT em concentrações altas interfere na queda de cabelo, aparecimento de pelos, acne e aumento da oleosidade da pele, por outro lado concentrações baixas de DHT está relacionado a aumento de riscos de alguns tipos de câncer, declínio da função cognitiva, maiores riscos de desenvolver depressão, perda de libido.
Interferência com outros medicamentos
No site Drug Bank (clique aqui) você encontra a interferência medicamentosa da testosterona com mais de 1100 insumos, inclusive nutracêuticos.
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Nos casos dos pacientes que não estão tendo bons resultados com a reposição hormonal com testosterona, avalie o tratamento do paciente como um todo. Assim será possível encontrar as respostas, auxiliar o tratamento e resolver a charada.
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Bibliografia consultada:
Schlich C; Romanelli F. Issues Surrounding Testosterone Replacement Therapy. Hosp Pharm, 2016