Os glicocorticoides são prescritos para tratar diversos tipos de patologias, em especial aquelas que envolvem uma doença inflamatória. Em alguns casos seu uso fica restrito ao tratamento de poucos dias, mas em algumas condições há necessidade de prolongar o uso. Essa classe de medicamentos apresenta diversos efeitos adversos, mesmo em baixas doses, podendo inclusive promover retenção de líquidos, reduzir a tolerância à glicose, causar alterações de comportamento e humor, distúrbios digestivos, aumentar o apetite e o ganho de peso.
Os efeitos adversos do uso de glicocorticoides a longo prazo incluem aparência cushingoide, catarata, aumento da pressão intraocular, osteoporose e fraturas por compressão vertebral. Estudos também revelam que altas doses de glicocorticoides pode aumentar o risco de doenças cardiovasculares; contudo, até recentemente, persistem controvérsias sobre o aumento do risco cardiovascular associado ao uso desses fármacos em baixas doses.
Com isso, pesquisadores britânicos buscaram quantificar o risco cardiovascular associado à dose e ao tempo de uso de glicocorticoides em pessoas com doenças inflamatórias imunomediadas.
Para pesquisa foi realizada uma análise de coorte de base populacional de 389 serviços de atenção primária vinculando internações e óbitos no período entre 1998 e 2017. O estudo incluiu 87.794 adultos com doença inflamatória imunomediada (p. ex., arterite de células gigantes e/ou polimialgia reumática, doença inflamatória intestinal, artrite reumatoide, lúpus e/ou vasculite) e sem história de doença cardiovascular. Após um acompanhamento médio de cinco anos, foram encontradas fortes associações entre dose administrada e risco de todas as doenças cardiovasculares, incluindo infarto do miocárdio, insuficiência cardíaca, fibrilação atrial e doença cerebrovascular.
Após um ano, foi possível verificar que o risco absoluto global de doenças cardiovasculares dobrou para indivíduos em uso de dose < 5 mg/dia de prednisona e foi seis vezes maior para aqueles em uso de ≥ 25 mg/dia do medicamento.
Os autores mostraram que os indivíduos que receberam prednisona apresentaram aumento do risco de desenvolver um amplo espectro de doenças cardiovasculares letais ou não, e que este risco aumenta de acordo com a dose e a duração do tratamento. Esses resultados mostram um alerta para o uso de glicocorticoides de forma indiscriminada e sem orientação prévia de um profissional de saúde e, quando se faz necessário seu uso deve-se implementar medidas de prevenção cardiovascular.
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Bibliografia consultada:
Pujades-Rodriguez M, et al. Dose-dependent oral glucocorticoid cardiovascular risks in people with immune-mediated inflammatory diseases: A population-based cohort study. PLoS Med, 2020.