Com o reconhecimento da melatonina como suplemento pela ANVISA, o assunto do momento é a dose autorizada de até 0,210 mg. Para muitos uma dose irrisória e sem efeito que não deveria nem ser autorizada. Para outros, um passo (mesmo que tardio) da ANVISA reconhecê-la como suplemento. O fato é que a melatonina até então era enquadrada como um hormônio e seu uso deveria ser feito somente mediante prescrição médica. Sendo um suplemento, outros profissionais da saúde como nutricionistas e farmacêuticos poderão prescrever, desde que, dentro da dose máxima permitida de 0,210 mg. Para doses mais altas, o médico continuará sendo o prescritor legalmente habilitado para prescrever.
O compromisso da Magistral Guide é trazer conteúdo científico, dicas e novidades para você, profissional da saúde apaixonado pelas práticas magistrais. Pesquisamos em publicações científicas qual seria a dose recomendada de melatonina e qual a dose eficaz mínima do insumo. Assim você pode ter argumentos concretos referenciados para dialogar com os prescritores e pacientes sobre esse tema tão em alta no momento.
A melatonina é um hormônio secretado principalmente pela glândula pineal em resposta às variações do ciclo circadiano e tem sido usada nas últimas duas décadas para promover o sono e tratar jet lag. Uma breve pesquisa no Pubmed com o termo “melatonin” é possível encontrar mais de 28.600 resultados, onde a grande maioria discute seus efeitos no sono e no tratamento das mais diferentes patologias e transtornos (câncer, autismo, transtornos psicológicos e neurológicos, entre tantas outras).
De forma geral a literatura preconiza o uso da dose entre 0,5mg a 5mg, mas é possível encontrar estudos utilizando doses maiores (de mais de 50mg) para o tratamento de alguns tipos de patologias como câncer. Por outro lado, há estudos que sugerem que as doses de melatonina devam ser iniciadas com 0,1 mg. Em um estudo, idosos com mais de 50 anos de idade receberam aleatoriamente um placebo e três doses diferentes de melatonina (0,1, 0,3, e 3,0 mg) por via oral 30 minutos antes de deitar por uma semana. Os pesquisadores concluíram que tanto na dose farmacológica (3,0 mg), como na dose baixa (0,1 mg) houve melhora do sono nos pacientes.
O uso de melatonina deve ser realizado com cautela pois é necessário iniciar com doses baixas até encontrar a dose ideal para promover uma boa noite de sono. Doses muito altas podem dessensibilizar os receptores de melatonina no cérebro, subsequentemente diminuindo a eficácia da melatonina na promoção do sono, gerando insônia, sonos perturbadores e até mesmo hipotermia, hiperprolactinemia e tontura matinal.
Em uma meta-análise de 16 estudos, doses de melatonina entre 0,1 mg e 50 mg/Kg foram administradas em adultos com idade entre 55 e 77 anos. Os resultados mostraram que quanto mais melatonina a pessoa ingeria, mais pronunciados os efeitos adversos nos pacientes. Portanto, aconselha-se o uso da menor dose possível, variando de 0,3 mg (que já é eficaz) a um máximo de 1 ou 2 mg, de preferência 1 hora antes de deitar.
Em pessoas mais jovens, os níveis de melatonina no plasma geralmente são cerca de 8-10 pcg / ml durante as horas do dia, quando pouca melatonina é secretada, aumentando rapidamente para 100–200 pcg / ml com o início da escuridão e permanecendo nesse nível até o amanhecer. Estudos afirmam que uma única dose antes de dormir de 0,2–0,5 mg de melatonina é capaz de restaurar os níveis noturnos de pessoas mais jovens por várias horas.
Em uma meta-análise envolvendo 1.683 indivíduos que receberam doses entre 0,1 a 5 mg, foi possível verificar uma redução da latência do sono e aumento do tempo total de sono. E apesar de alguns estudos mostrarem que doses mais altas de melatonina apresentam maiores efeitos na redução da latência do sono e no aumento do tempo total de sono, em conclusão, sugere-se que seus efeitos na qualidade do sono são constantes para qualquer duração ou dose.
É importante frisar que em países da Europa e no EUA, a melatonina é considerada um suplemento e tem venda livre em doses de até 10 mg. Obviamente não é surpresa encontrá-la dentro da lista dos suplementos mais vendidos do país. Assim, comparando a decisão da ANVISA com EUA e Europa e verificando as doses de uso sugeridas em literatura (0,5mg a 5mg), realmente 0,210 mg é uma dose baixa, mas não necessariamente sem eficácia.
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Bibliografia consultada
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