Uma das vantagens do medicamento manipulado é poder deixá-lo totalmente personalizado, com as concentrações e insumos necessários para o tratamento do paciente e dentro de uma forma farmacêutica que facilite a administração. A composição da base utilizada na forma farmacêutica pode ser adaptada para atender os mais diversos critérios de aceitação dos pacientes, como um aroma específico, o uso de insumos de origem não animal e até mesmo a escolha do adoçante. Há prescritores e pacientes que solicitam que suas fórmulas sejam feitas com determinados adoçantes, e toda essa particularidade só é possível com medicamentos manipulados.
Há muitas organizações respeitadas e revisões de literatura que consideram os adoçantes artificiais seguros, após extensas pesquisas epidemiológicas com populações humanas e dentro de um limite diário. Mas para alguns pesquisadores, a segurança de determinados adoçantes ainda é controversa devido a resultados de estudos in vitro e in vivo apresentando algumas preocupações.
Um novo estudo observacional publicado na Plos Medicine encontrou uma associação entre o consumo de adoçantes artificiais, particularmente aspartame e acessulfame-K, e o desenvolvimento de câncer. Para as pessoas que consomem grandes quantidades de adoçantes artificiais o estudo encontrou um risco 13% maior de câncer em geral, com maior probabilidade para o câncer de mama e câncer relacionado à obesidade.
Os pesquisadores analisaram o histórico de 102.865 adultos participantes do Estudo NutriNet-Santé que começou a coletar dados em 2009. Os participantes foram acompanhados para a pesquisa durante uma média de 7,8 anos.
A análise foi realizada para o ‘total de adoçantes artificiais’ em geral (ou seja, a soma de acessulfame-K, aspartame, sucralose, ciclamatos, sacarina, glicosídeos de esteviol e sal de aspartame-acessulfame), e depois separadamente para os produtos artificiais mais representados na coorte (ou seja, acessulfame-K, aspartame e sucralose).
Os autores ressaltam que o aspartame e o acessulfame-K foram de longe os adoçantes artificiais mais consumidos e o fato de que as associações foram observadas para esses dois – e não para a sucralose, por exemplo – deve ser considerado com cautela, pois pode ser devido apenas ao fato de aspartame e acessulfame-K terem sido os mais consumidos.
Com base apenas neste estudo não é possível estabelecer a causalidade da associação – isso precisará de replicação em outros estudos, em outros países e configurações – e não é possível estabelecer uma ‘dose em que o risco aparece’. O que se pode concluir de fato é que os maiores consumidores de adoçantes artificiais, com uma ingestão média de 79,43 mg/dia, tiveram um risco significativamente aumentado de câncer comparados aos não consumidores.
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Bibliografia consultada:
Debras C; et al. Artificial sweeteners and cancer risk: Results from the NutriNet-Santé population-based cohort study. Plos Medicine, 2022.