A relação entre suplementação de ácido fólico e desfechos cardiovasculares tem sido amplamente estudada nas últimas décadas. Enquanto o papel do folato na prevenção de defeitos do tubo neural é bem estabelecido, sua função no contexto cardiovascular ainda gera controvérsias. Uma nova revisão sistemática com meta-análise lança luz sobre o tema ao analisar especificamente o efeito do ácido fólico em pacientes com doença cardiovascular (DCV).
O que essa meta-análise investigou?
Conduzida por Wang et al. e publicada na revista Medicine, a meta-análise reuniu dados de 12 ensaios clínicos randomizados, totalizando 47.523 participantes com doença cardiovascular. O objetivo central foi avaliar se a suplementação com ácido fólico influenciava os seguintes desfechos:
Risco de acidente vascular cerebral (AVC)
Mortalidade por todas as causas
Mortalidade cardiovascular
Doença arterial coronariana (DAC)
Foram utilizados modelos de efeitos fixos para análise estatística, com cálculo de risco relativo (RR), razão de risco (HR) e seus respectivos intervalos de confiança (IC).
Resultados principais
✅ Redução significativa do risco de AVC
A principal descoberta foi que pacientes com DCV que receberam suplementação de ácido fólico apresentaram um risco 15% menor de AVC em comparação aos que não suplementaram (RR = 0,85; IC 95%: 0,77–0,94). A heterogeneidade foi baixa (I² = 10,6%), o que fortalece a robustez desse resultado.
❌ Nenhum impacto significativo em outros desfechos
Por outro lado, não foram observadas reduções estatisticamente significativas nos seguintes desfechos:
Mortalidade por todas as causas (HR = 0,97; IC 95%: 0,86–1,10)
Mortalidade cardiovascular (HR = 0,87; IC 95%: 0,66–1,15)
Risco de DAC (RR = 1,04; IC 95%: 0,99–1,10)
Esses achados indicam que, embora o ácido fólico possa ter um papel protetor específico no contexto do AVC, seus efeitos não se estendem a outros desfechos cardiovasculares ou à mortalidade geral.
Possíveis mecanismos envolvidos
Os benefícios do ácido fólico na prevenção de AVC podem estar relacionados à sua capacidade de:
Reduzir níveis plasmáticos de homocisteína, um aminoácido associado ao risco cardiovascular aumentado;
Melhorar a função endotelial e a resposta inflamatória;
Contribuir para a manutenção da integridade vascular, especialmente em indivíduos com deficiência de folato ou com mutações como a C677T da MTHFR.
Considerações clínicas
Para profissionais de saúde que atuam na prevenção e tratamento da doença cardiovascular, este estudo fornece evidências adicionais de que a suplementação com ácido fólico pode ser benéfica na redução do risco de AVC, sobretudo em populações com baixa ingestão dietética de folato ou em países onde a fortificação alimentar não é sistemática.
No entanto, a ausência de benefício em mortalidade e outros desfechos cardiovasculares alerta para a necessidade de abordagens multifatoriais, onde o ácido fólico pode ter um papel complementar — e não isolado — na estratégia de prevenção.
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