A osteoporose é uma condição multifatorial com enorme impacto na saúde pública, especialmente entre mulheres pós-menopáusicas e idosos. Com o envelhecimento da população global, cresce o interesse por estratégias nutricionais que ajudem a preservar a densidade mineral óssea (DMO) e reduzir o risco de fraturas. Nesse cenário, os ácidos graxos ômega-3 emergem como possíveis aliados da saúde óssea — ainda que as evidências epidemiológicas sobre seu papel preventivo sejam, até o momento, inconclusivas.
O que investigou o estudo?
Com o objetivo de aprofundar essa relação, pesquisadores analisaram dados de 8.889 participantes da Pesquisa Nacional de Exame de Saúde e Nutrição (NHANES). Os indivíduos foram classificados nos grupos “normal”, “osteopenia” e “osteoporose”, de acordo com suas pontuações de DMO. A ingestão alimentar de ômega-3 foi avaliada com base em dois recordatórios alimentares de 24 horas e posteriormente dividida em quartis.
Modelos de regressão logística multivariada e análise de subgrupos permitiram identificar possíveis correlações entre a ingestão dietética de ômega-3 e a presença de osteoporose.
Principais resultados
Os achados mostraram uma associação inversa significativa entre a ingestão alimentar de ômega-3 e o risco de osteoporose. Indivíduos no quartil mais alto de consumo desses ácidos graxos apresentaram uma redução de 29% no risco de osteoporose em comparação com aqueles no quartil mais baixo (OR = 0,71; IC 95%: 0,53–0,93). Essa tendência se manteve consistente mesmo após ajustes por fatores de confusão.
As análises de subgrupos revelaram efeitos protetores mais marcantes em:
Pessoas com menos de 60 anos: risco reduzido em 49% (OR = 0,51).
Mulheres: risco reduzido em 35% (OR = 0,65).
Não fumantes: risco reduzido em 36% (OR = 0,64).
Por outro lado, a associação entre ômega-3 e osteoporose não foi significativa em fumantes ou indivíduos com mais de 60 anos. A análise de dose-resposta indicou uma relação linear, sugerindo que quanto maior o consumo de ômega-3, menor o risco de osteoporose (p para não linearidade = 0,366).
Possíveis mecanismos
Embora a fisiopatologia ainda esteja em investigação, os mecanismos propostos para os efeitos benéficos dos ômega-3 sobre o metabolismo ósseo incluem:
Redução da inflamação crônica de baixo grau, associada à reabsorção óssea;
Modulação dos osteoblastos e osteoclastos por vias inflamatórias e hormonais;
Influência positiva sobre a absorção de cálcio e regulação do metabolismo mineral.
Esses efeitos podem ser especialmente relevantes em populações suscetíveis à perda de massa óssea, como mulheres na menopausa.
Considerações clínicas
O presente estudo reforça o potencial dos ácidos graxos ômega-3 como coadjuvantes na manutenção da saúde óssea, especialmente em pacientes mais jovens, mulheres e não fumantes. No entanto, a ausência de associação em idosos ou fumantes sugere que o benefício pode ser modulado por outros fatores fisiológicos e ambientais.
Ainda são necessários estudos longitudinais e ensaios clínicos controlados para confirmar esses achados e fundamentar diretrizes dietéticas mais específicas voltadas à prevenção da osteoporose.
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