A infecção por Helicobacter pylori (H. pylori) é um dos principais fatores de risco para inflamação gástrica crônica e desenvolvimento de câncer gástrico. Essa bactéria coloniza a mucosa do estômago e afeta milhões de pessoas em todo o mundo, especialmente em regiões com condições sanitárias precárias ou dietas pobres em nutrientes protetores.
Embora fatores ambientais e genéticos estejam implicados na susceptibilidade à infecção, evidências emergentes sugerem que certos nutrientes podem desempenhar um papel protetor. Entre eles, a vitamina B2 (riboflavina) tem despertado interesse por seus potenciais efeitos na imunidade e integridade da mucosa gastrointestinal.
O que diz a ciência?
Um estudo transversal recente, baseado nos dados do NHANES (National Health and Nutrition Examination Survey) de 1999–2000, buscou investigar a possível associação entre o consumo alimentar de vitamina B2 e a soropositividade para H. pylori em adultos norte-americanos.
A ingestão de riboflavina foi estimada por meio de entrevistas alimentares de 24 horas, enquanto a presença de anticorpos IgG contra H. pylori foi determinada por teste ELISA. Dos 2.859 participantes avaliados, 1.257 apresentaram soropositividade para a bactéria.
Após ajustes para múltiplas variáveis, os pesquisadores encontraram uma associação inversa estatisticamente significativa entre o consumo de vitamina B2 e a presença de H. pylori. Os indivíduos no quartil mais alto de consumo (Q4) apresentaram uma redução de 39% no risco de soropositividade em comparação ao grupo com menor ingestão (Q1).
Mecanismos potenciais
Embora o estudo seja de natureza observacional e não permita estabelecer causalidade, algumas hipóteses podem explicar essa associação. A vitamina B2 é essencial para o metabolismo energético, o funcionamento mitocondrial e a integridade da mucosa epitelial. Além disso, participa da regeneração do glutationa, um importante antioxidante intracelular envolvido na defesa contra o estresse oxidativo — um dos mecanismos ativados na inflamação causada por H. pylori.
A riboflavina também pode influenciar a microbiota intestinal e modular respostas imunes, o que potencialmente contribuiria para uma menor colonização por patógenos como H. pylori.
Implicações para a prática clínica
Esses achados sugerem que a ingestão adequada de vitamina B2 pode desempenhar um papel preventivo na infecção por H. pylori, sendo um ponto relevante tanto para estratégias nutricionais quanto para a saúde pública.
Para profissionais da saúde, considerar o estado nutricional dos pacientes — especialmente em relação a vitaminas do complexo B — pode agregar valor à prevenção de doenças gastrointestinais e inflamatórias.
Contudo, é importante reforçar que mais estudos, especialmente ensaios clínicos randomizados, são necessários para confirmar a relação causal e compreender os mecanismos exatos envolvidos.
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