A vitamina D, historicamente associada à saúde óssea, vem ganhando destaque como uma peça-chave na regulação imunológica e na prevenção de doenças crônicas — especialmente o câncer colorretal (CCR). Nos últimos anos, a ciência tem demonstrado que seus efeitos vão muito além do metabolismo do cálcio e fósforo, alcançando níveis profundos de influência na resposta imune e na biologia tumoral.
Imunomodulação: o elo entre vitamina D e proteção antitumoral
A ação da vitamina D no sistema imunológico envolve receptores específicos (VDRs) presentes em diversas células imunes, como linfócitos T, B e células apresentadoras de antígeno. Por meio desses receptores, a vitamina D regula a expressão gênica relacionada à inflamação, proliferação celular e apoptose — três pilares diretamente ligados à oncogênese.
Além disso, estudos apontam que a vitamina D pode:
Reduzir a inflamação crônica intestinal, fator crítico no desenvolvimento do CCR.
Modular positivamente a atividade dos órgãos imunológicos, como o baço e os linfonodos.
Estimular células T reguladoras e inibir vias pró-inflamatórias que promovem a tumorogênese.
Baixos níveis de vitamina D: um marcador de risco?
Evidências epidemiológicas mostram que a deficiência de vitamina D está associada a maior risco de desenvolvimento de câncer colorretal, bem como a piores desfechos clínicos. Fatores de estilo de vida — como dieta rica em carne vermelha, pobre em fibras, inatividade física e baixa ingestão de cálcio e vitamina D — também potencializam esse risco.
O que dizem os ensaios clínicos?
Apesar das evidências observacionais promissoras, os resultados de ensaios clínicos randomizados sobre a eficácia da suplementação com vitamina D no CCR ainda são variados. A maioria das pesquisas aponta para efeitos protetores, mas os mecanismos exatos de ação permanecem parcialmente elucidados.
Entre os desafios atuais da ciência estão:
Determinar a dose ideal e a melhor formulação de vitamina D.
Investigar fatores genéticos e epigenéticos que influenciam a resposta à suplementação.
Explorar o potencial sinérgico da vitamina D com outras terapias antitumorais.
Ampliar estudos clínicos em larga escala, com diferentes perfis de pacientes e fases do CCR.
Conclusão: vitamina D é parte de uma estratégia integrativa contra o CCR
Manter níveis adequados de vitamina D pode ser um recurso importante na prevenção e como adjuvante no tratamento do câncer colorretal. Seu papel como imunonutriente, modulador da inflamação e regulador da proliferação celular reforça sua relevância clínica, especialmente em populações com risco aumentado ou baixa exposição solar.
Contudo, ainda são necessários mais estudos robustos para consolidar diretrizes terapêuticas claras e personalizadas quanto ao uso da vitamina D no contexto oncológico.
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Bibliografia consultada:
Fekete, M.; Lehoczki, A.; Szappanos, Á.; Zábó, V.; Kaposvári, C.; Horváth, A.; Farkas, Á.; Fazekas-Pongor, V.; Major, D.; Lipécz, Á.; et al. Vitamin D and Colorectal Cancer Prevention: Immunological Mechanisms, Inflammatory Pathways, and Nutritional Implications. Nutrients 2025.