O glaucoma é uma das principais causas de cegueira irreversível no mundo, marcado pela perda progressiva das células ganglionares da retina (CGRs). Embora o controle da pressão intraocular (PIO) seja atualmente o único tratamento disponível, não existem terapias eficazes com ação direta na neuroproteção da retina.
Pesquisas recentes têm explorado o papel da homocisteína — um aminoácido relacionado ao metabolismo do folato e da metionina — como possível fator envolvido na patogênese do glaucoma. Em modelos experimentais, o aumento da homocisteína no humor vítreo foi associado a um acréscimo de 6% na morte de CGRs em situações de hipertensão ocular.
Homocisteína: marcador ou agente causal?
Apesar das evidências experimentais, grandes estudos populacionais como o UK Biobank não identificaram relação direta entre polimorfismos genéticos que elevam a homocisteína e a progressão do glaucoma. Tampouco os níveis séricos da substância mostraram impacto significativo na evolução do campo visual dos pacientes com a doença. Isso reforça a hipótese de que a homocisteína elevada seria uma consequência secundária da patologia — um marcador patogênico — e não uma causa direta.
Vitaminas B e colina: potenciais aliadas da retina
Estudos com modelos animais revelaram que, mesmo antes da degeneração avançada, há uma desregulação precoce e sustentada dos genes envolvidos no metabolismo de um carbono — rota bioquímica da qual fazem parte cofatores fundamentais como as vitaminas B6, B9 (ácido fólico), B12 e a colina.
A suplementação desses nutrientes demonstrou efeito neuroprotetor significativo. Em modelos agudos de lesão, preveniu a perda de CGRs. Em modelos crônicos de glaucoma, protegeu a função visual, sugerindo um papel terapêutico promissor para esses micronutrientes.
Conclusão
Embora a homocisteína elevada não pareça ser um fator causal direto no glaucoma, sua presença sinaliza alterações importantes no metabolismo neuronal. A modulação desse metabolismo por meio de vitaminas do complexo B e colina surge como uma estratégia promissora de neuroproteção — especialmente em fases precoces da doença. Novos ensaios clínicos são necessários para confirmar esses achados e potencializar seu uso como terapia complementar no manejo do glaucoma.
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