O horário da alimentação é um fator relevante no controle de peso. Pesquisadores demonstram que não apenas “o que”, mas também “quando” comemos, pode afetar a obesidade e a perda de peso. Com isso, um novo estudo, liderado por cientistas do Brigham and Women’s Hospital, propôs avaliar os efeitos diferenciais sobre a fome e o apetite, oxidação lipídica, glicose em jejum, microbiota, ritmos de sono e temperatura em mulheres na pós menopausa (que são particularmente vulneráveis ao ganho de peso), que ingeriam 100 g diariamente, de chocolate ao leite pela manhã ou a noite.
Diversos estudos prévios tem mostrado que a ingestão de chocolate com alto teor de cacau proporciona benefícios à saúde. Infelizmente a maioria dos chocolates disponíveis comercialmente contribuem para o ganho de peso porque contem alto teor de gordura, açúcar, calorias e baixa concentração de cacau, o principal responsável pelos benefícios do produto. Mas nesse trabalho em especial os pesquisadores utilizaram justamente o chocolate ao leite rico em gordura e açúcar, para avaliar seu efeito no ganho de peso e a melhor hora para ingerir. Os chocolates continham: 18,1 g de cacau (215 mg de teobromina, 2,06 mg de cafeína e 854 mg de polifenóis totais), 31 g de gordura, 58,4 g de carboidratos (dos quais 57,5 g eram açúcar), 6,3 proteínas e 1,8 g de fibra por 100 g de chocolate.
A hipótese dos pesquiadores é que ter um alimento com alto teor de açúcar e energia, como chocolate, durante um curto período de duas semanas pela manhã ou à noite, pode afetar o equilíbrio energético e impactar diferencialmente o peso corporal ou a distribuição de gordura devido a mudanças na ingestão de energia, oxidação de substrato, variáveis relacionadas ao sono e ritmo circadiano ou composição da microbiota e sua atividade metabólica.
Então, para descobrir mais sobre os efeitos de comer chocolate em diferentes horas do dia, os pesquisadores conduziram um estudo randomizado, controlado e cruzado com mulheres na pós-menopausa. As participantes consumiram 100 g de chocolate ao leite pela manhã (dentro de uma hora depois de acordar) ou à noite (dentro de uma hora antes de dormir).
Os resultados mostram que 14 dias de ingestão de chocolate não aumentou o peso corporal. O consumo de chocolate diminuiu a fome e o desejo por doces, reduziu a ingestão de energia~ 300 kcal/dia para quem ingeriu durante a manhã e ~ 150 kcal/dia para quem ingeriu durante a noite, mas não compensou totalmente a contribuição de energia extra do chocolate (542 kcal / dia). Os níveis diários de cortisol, um hormônio do estresse liberado pelas glândulas supra-renais, eram mais baixos ao comer chocolate pela manhã do que à noite. Além disso, o chocolate matinal diminuiu a glicose em jejum (4,4%), circunferência da cintura (-1,7%) e induziu a oxidação lipídica (+ 25,6%). O chocolate noturno alterou o metabolismo do repouso e do exercício na manhã seguinte, aumentando a atividade física em + 6,9%, a dissipação de calor após as refeições (+ 1,3%) e a oxidação de carboidratos em + 35,3%. Ambos os horários de ingestão do chocolate resultaram em perfis e funções diferenciadas da microbiota.
Segundo os autores o mais interessante de observar no estudo foi que os voluntários não ganharam peso, apesar do aumento da ingestão calórica. Comer chocolate reduziu a ingestão de energia ad libitum (seguindo seus hábitos dietéticos habituais), consistente com a redução observada na fome, apetite e desejo por doces mostrado em estudos anteriores
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Bibliografia consultada:
González TH; et al. Timing of chocolate intake affects hunger, substrate oxidation, and microbiota: A randomized controlled trial. The FASEB Journal, 2021